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trecho do projeto da video-instalação "castelo de pólen"  

fragment of the project of the video installation "pollen castle"

Castelo de pólen _ por Alejandra Muñoz

 


Em tempos de bombardeios visuais e subjetividades hiperexpostas, a sutileza é um valor quase aniquilado pela premência do acontecimento. Parece cada vez mais difícil alguém construir imagens elementares e belas como exercício reflexivo, sem a contingência existencial do autor; instâncias com a potência de uma captura sem a mediação de equipamentos, como se a presença do nosso olho tivesse o poder de apagar qualquer sinal do artista e de qualquer meio de registro.

 


É nesse lugar que Beatriz Franco nos coloca: um espaço no qual resta apenas a nossa invisibilidade e o fatigoso fardo da consciência da nossa insignificância, da impossibilidade de reversão da nossa finitude e o resultado derradeiro de uma busca cujo único mérito é o processo do descobrimento. Uma conjuntura temporal na qual o agora imediato se embaralha com o muito remoto mitificado. Solidão, pessimismo, impotência são emoções reativas frente à imediatez do rotineiro. Não estamos com os pés no chão: a artista nos empurra para uma posição de desconforto na contemplação do quase imóvel. A perspectiva rasteira dos objetos estimula a consciência de nosso afastamento do essencial e do abissal estranhamento que nos rodeia.
 

 

O presente tem o tom quase desbotado da penumbra; o passado, uma luz vibrante que parece desafiar a degradação química do tempo. Nesse paradoxo, o hoje emerge confuso, turvo, inseguro, reversivo; o ontem aparece leve como um fantasma etéreo de algo que já foi, porém, denso em sua estática persistência mineral. O arcabouço de uma forma de eternidade versus a efemeridade do fluxo de uma passagem. Talvez, os polos incômodos disso que chamamos contemporaneidade.

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