O que precisamos deixar para seguir adiante _ por Beatriz Franco
Buscar, na própria produção, algo solicitado por um outro. Olhar e re-olhar o que já esta produzido a partir de um pedido: uma imagem do corpo. Pareceu-me óbvio que o meu trabalho como artista visual tratou e trata em muitos momentos do que eu entendo como corpo. Porém, onde esta esse corpo que me pediram em imagem? Estaria ele presente nos fragmentos que fotografo, por vezes tão reduzidos? Ou seria um detalhe de corpo ao lado de uma imagem do céu, uma composição como tantas outras que fiz, onde o corpo, ou melhor, onde as minhas interpretações fragmentadas dele parecem, quase sempre, se acompanhar de outras imagens, às vezes de máquinas, outras de elementos da natureza, de outro fragmento de outro corpo, ou ainda de imagens do interior do corpo geradas por máquinas. Um corpo que não esta sozinho, não é sozinho, um corpo no mundo.
No entanto, após essa breve experiência de busca consciente de uma imagem do corpo, as minhas definições ainda me parecem imprecisas e não generalizáveis! O meu corpo, o seu corpo, o corpo, mais que nunca, pareceu-me tão único que descrevê-lo seria apenas uma tentativa, um conceito distante da realidade. Quiçá o mundo técnico alcancará uma síntese e assim terá feito valer todo um ano de elaborações e de tantas palavras que se empenham por comunicar algo, por criar novas conexões; sim?
A mim, aqui, cabe a imagem que possivelmente acompanhará tais palavras. E para defini-la precisei, eu mesma, escrever, criar a minha pequena babel e apresentar esta fotografia! Um corpo que se fragmenta, um corpo que se separa de sua matriz e se espalha sem margens, uma pilha de pele que se desprendeu, uma babel do corpo, a parte que contém o todo. Como a poesia da tagarelice do sujeito e a inesperada palavra que escapa e acena para o todo do inconsciente.
Publicado em: Associacao Psicanalitica Campo Lacaniano www.campopsicanalitico.com.br - 2009