Espaço Cultural Porto Seguro cria mostra de filmes de artista com participação de realizadores contemporâneos
9 de agosto – quinta-feira – 19h
Jonathas de Andrade – O Levante (2012-2014)
Pedro França – Artist Talk (2018)
Gui Mohallem – O Rio (2016)
Ismaïl Bahri – Foyer (2016)
Carlos Nader – Tela (2011)
Mesa-redonda: Peter Pál Pelbart (filósofo) e Beatriz Franco (curadora)
10 de agosto – sexta-feira – 19h
Paulo Brusky – Poema (1979)
Wagner Malta Tavares – O Barqueiro (2008)
Gian Spina – 1628 (2018)
Virginia de Medeiros – Cais do corpo (2015)
Leonardo França – Ifá (2014)
Ana Paula Oliveira – Vai Que Vai (2015)
Mesa-redonda: Ana Pato (curadora e pesquisadora) e Beatriz Franco (curadora)
11 de agosto – sábado – 16h
Ayrson Heráclito – História do futuro - Atletas: o capítulo da aeromancia (2015)
Sonia Guggisberg – Fim de sonho (2013)
Berna Reale – A frio (2017)
Cesar Meneghetti – I/O Eu É Um Outro Obra #01 (2013)
Lenora de Barros – Já Vi Tudo (2005)
Mesa-redonda: Miriam Chnaiderman (cineasta e psicanalista) e Beatriz Franco (curadora)
[ texto curatorial ]
B: O que você esta pintando?
M: Um quadro.
B: Um quadro?
M: É, como os artistas.
B: Como os artistas?! O que faz um artista?
M: Um artista faz todas as coisas. (Beatriz • 35 anos; Mariana • 3 anos )
“Um artistas faz todas as coisas”, me disse Mariana quando tinha apenas três anos. Ao iniciar o projeto curatorial da I Mostra de filme de artista junto com Rodrigo Villela e Felipe do Amaral, nos perguntamos mais uma vez: “O que faz um filme ser chamado de ‘filme de artista’?” A despeito de todas as teorias, Mariana nos diz sabiamente: um artista sonha e realiza. Em imagens, em palavras, em objetos, em movimentos, em sons, no que for! O que fazemos nós agora? Pretendemos, sobretudo, dizer que não importam os meios escolhidos pelos artistas – se neste caso são vídeos de artistas, afirmamos que o que os une é o que eles têm em comum com toda arte: o imperativo humano de compartilhar, seja como for, o inexplicável da existência.
O historiador da arte, Ernest Gombrich, com o propósito de remontar uma narrativa sobre o nascimento das artes e dos artistas, radicaliza e diz: “Não existe, na realidade, uma coisa chamada arte. Existem apenas os artistas...” Se assim for, todo vídeo produzido por um artista é arte? Nos agrada a ideia de que a arte possa perguntar mais do que responder. A arte talvez seja um dos poucos “lugares” onde isso possa existir e onde, tantas vezes, o público também se sinta livre para expressar seus afetos: desde a indiferença até o amor.
No contexto da apreciação das obras de arte, há um lugar “seguro” para o expectador expressar suas discordâncias em relação a uma obra ou a um autor. Cabe às instituições culturais zelar por espaços onde as mais diversas pessoas possam sentir e falar a respeito do que estão presenciando, se encontrar com lugares e objetos desconhecidos, que talvez não gostem, não entendam, não desejem retornar, mas, que possam estar com esses “outros”, diferentes deles mesmos – como somos todos – sem se sentirem ameaçados. Consequentemente, sem precisarem responder com ódio ou destruir aquilo que sentem como “diferentes de si”. Assim, novos trajetos podem ser percorridos sem que estejamos indiferentes a eles. Talvez companhias sejam encontradas no caminho e aproximações aconteçam. Também, talvez, assim, possamos ter menos rancor, menos ódio e menos medos solitários. Desejamos que essas inquietações possam existir em cada um de nós; que os “estranhos” a nós e em nós não nos ameacem tanto, ou tenham que desaparecer, como ilusões de garantias. Parece um sonho? Pode ser... Mas, como aprendemos com Mariana: sonhamos e realizamos.
Não responder não quer dizer não dizer nada. Sabemos disso. Lembramos disso. Os artistas estão dizendo algo com seus vídeos e queremos nos conectar com eles – ouvi-los! A seleção de trabalhos que veremos nesta mostra aponta para isso: como nos conectamos com o outro, em nós e fora de nós.
Beatriz Franco
São Paulo, agosto de 2018